Pará precisa mais atenção dos brasileiros

Sorrentino faz avaliação do estado do Pará, como niguêm.


Escrevo em meio ao curso da Conferência do Pará. Num lindo lugar, o Parque dos Igarapés, infelizmente (ou não?) não há internet. Muito por dizer, desde a abertura de ontem, com a presença das maiores lideranças de partidos como PMDB, PSOL, PT, PSB, PP, PTdoB, PTN e outros. Foi um registro importante para nós, na 14ª. Conferência do PCdoB do Pará, do respeito pela coerência e papel político do partido no Pará, na história e no presente.
Hoje, reuniram-se mais de 200 delegados de 70 municípios, representando 41oo militantes mobilizados na base, para um debate sobre o país e o Estado. Mais uma vez, manifestou-se uma eletricidade com o projeto político para o partido. Abrir o partido, preparar candidaturas a prefeitos, chapas próprias de vereadores, atrair lideranças do povo e construir alianças que permitam afirmar o PCdoB. Também pelo projeto político-organizativo de inserir a fundo o partido na realidade social e da luta de idéias. Muita seriedade nesse compromisso, é o que a conferência sinaliza.
Pará tem um partido de valentes e abnegados comunistas. A história é rica em exemplos e eles alimentam o presente de luta. Mas esta é uma conferência com olhos postos no futuro. Um novo ciclo está em gestação na vida do PCdoB do Pará. Uma das manifestações disso foram as conversações mantidas com inúmeras lideranças de expressão que buscam compromisso com o partido, com vistas a seu projeto político. Há muitas lideranças em tela. A mais conhecida foi a ex-deputada Sandra Batista, hoje vice-prefeita de Ananindeua, que manifestou sua decisão de retornar à sua casa, como comunista que é e se sente. Foi momento elevado na Conferência.
Muitas delegações presentes, impressionaram-me as de municípios do Marajó. Um enorme sentimento de futuro toma conta deles e a sensação é que o PCdoB deverá ser a maior força ideal e política das ilhas num futuro próximo. Anseiam por poder explorar em benefício do desenvolvimento as riquezas naturais locais, ao lado da preservação da cultura marajoara da qual eles são os guardiões.
Estive também com Mário Filho Itupiranga, do povo Maracayp Gavião, dos krikatejé originais de Pernambuco. Conheci Ivan Freire, histórico comunista de Campina Grande na Paraíba, vivendo hoje em Castanhal.
Pará merece maior atenção e carinho dos brasileiros. No Estado se produz a extração mineral de maior vulto no país, por ser uma das maiores províncias minerais do mundo. Nessa condição é o segundo  Estado que mais proporciona divisas ao Brasil! No entanto, a Lei  Kandir desonera de impostos esses produtos. Por outro lado, produzirá com Belo Monte e Tucuruí mais de 50% da energia elétrica brasileira e é o terceiro exportador de energia do país, mas esta paga impostos no destino de consumo, não no da produção!
Coteje-se isso com o fato de que, dos 16 milhões de pessoas definidos como em condição de miséria, 1,6 milhões estão no Pará. Quer dizer, de 27 Estados o Pará tem  10% dos absolutamente pobres brasileiros.
Volto a Marajó: não recebe benefício algum do desenvolvimento brasileiro. Falei com Adão, nosso futuro candidato a prefeito de Novo Repartimento, emancipado de Tucuruí há 20 anos. Nesse período, investimentos federais na cidade: zero. Investimentos estaduais na cidade: única e apenasmente uma escola pública. Vinte anos! O Estado não chega, o desenvolvimento não chega; as riquezas são exploradas e se vão sem deixar legado.
Uma dos maiores dilemas brasileiros é superar as desigualdades regionais no país, que refratam as próprias desigualdades sociais profundas. A conferência foi instigante nesse sentido: alinhar o Pará com o Brasil, sanar essa profunda desigualdade com os irmãos do Norte. Algo está sendo feito, é preciso muito, muito mais. Certamente, dividir o Estado do Pará em três só vai agravar a assimetria já tão poderosa das desigualdades.

Fonte: www.waltersorrentino.com.br

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